segunda-feira, 20 de maio de 2013

EXISTEM LEVITAS NOS DIAS DE HOJE?



Como alguns ja sabem, eu sou músico, e atuo com música na igreja há alguns anos. Pra terem uma idéia, aos 7 anos mais ou menos (quando comecei a "violar o tocão") no meio do culto pedia pro meu pai abrir espaço pra eu sentar no palco e tocar uma das duas canções que eu conhecia: "Meu Barco é Pequeno", ou então "Quando Estou com o Povo de Deus", verdadeiros clássicos do cancioneiro cristão (rs).
Vinte e dois anos se passaram desde o garotinho com duas músicas no repertório, nesse tempo eu vi e ouvi muita coisa. Desde a superproduzida galera do Salt, passando pelos "corinhos" singelos e desafinados da Romilda. O som adolescente do Rebanhão, o rock rebelde do Brother Simion. Até chegarem os importados Maranata! e Hosana! (pra quem não conhece, eram dois selos americanos rivais, o avós do Hillsong e do LifeHouse).

Talvez uma das mudanças mais destrutivas que vi nesse período tenha sido a transformação do serviço de música em "Ministério Levítico". Há até o absurdo de um projeto para um programa estilo "Ídolos" que se chamaria "Levitas". Felizmente o projeto não saiu do papel (ainda).

Primeiramente o que é um levita? Trata-se de uma famíla, uma das 12 tribos de Israel, que era destinada a TODO serviço no tabernáculo, e mais tarde no templo. Eles eram músicos. Mas também eram porteiros, faxinheiros, sacerdotes.

Acender o menorá, trocar os pães da preposição, a água da bacia, isso era função do levita. Também eram carregadores. Somente eles eram autorizados a carregar a arca da aliança e as partes do tabernáculo, que eles mesmos montavam e desmontavam sempre que a nuvem ou a coluna de fogo estacionassem em algum ponto do deserto.

Então a música era apenas uma dentre tantas funções dos levitas. Curiosamente o livro de "Levítico" não tem nenhuma canção.

Nesse ponto alguns chegam a pensar: "Então todo mundo que trabalha na igreja deveria ser chamado de levita"... Ao que caberia a resposta: "Se essa igreja não fosse cristã, pode até ser".

Isso porque Jesus, o fundador da SUA igreja, não era levita. Ele era da tribo de Judá, certo? Logo aqueles que foram gerados nele não são gerados pela linhagem de Levi. Isso dá um nó na cabeça.

No capítulo 7 do livro de Hebreus há uma excelente explanação sobre o tema. Sobre Jesus, Paulo afirma que ele é "sacerdote eternamente segundo a ordem de Melquisedeque".

"De sorte que, se a perfeição fosse pelo sacerdócio levítico (porque sob ele o povo recebeu a lei), que necessidade havia logo de que outro sacerdote se levantasse, segundo a ordem de Melquisedeque, e não fosse chamado segundo a ordem de Arão?"

Então Jesus e nenhum de seus seguidores são feitos levitas. (nem mesmo os músicos... rs)

O que nos leva a outro ponto ainda mais delicado. Vejo muita gente falando em "Ministério de Música" ou o pior ainda "Ministério de Louvor e Adoração". Oras, se é de fato um ministério de Louvor e Adoração, podemos definir o que é Louvor e Adoração?

Tecnicamente falando, ja ouvi o Gerson Ortega definir (em linhas gerais) Louvor como exaltação, e adoração como Gratidão. Gostei demais. Mas parece que ele esqueceu de botar a música na parada. Sim, pois os "ministérios de louvor e adoração" que conheço são todos de músicos.

Num outro artigo meu publicado aqui cheguei a definir adoração em espírito e em verdade. Se você der uma olhadinha la vai perceber que essas coisas não são do tipo que podemos confiar que outros façam pela gente. Louvar e adorar não são "ministérios", mas sim atitude daqueles que conhecem o amor de Deus.

Também não gosto de chamar as músicas cristãs de "louvores". Afinal, a canção pode se tornar louvor de acordo com o coração de quem canta. Ou pode se tornar vergonha para Deus, se for entoada em glória própria. Logo uma música também não é louvor, tanto quanto um prato não é comida e um copo não é bebida. A música é apenas um dos possíveis recipientes do louvor, que pode ser expresso das mais diversas formas. Até mesmo lavando os pés do mestre com suas lágrimas e os enxugando com seus cabelos. Quem diria que uma higienização tão peculiar poderia ser uma manifestação de louvor?

Se para você (assim como para mim) parece que ao chamarmos os músicos cristãos apenas de "músicos", e as músicas cristãs apenas de "músicas" estaremos rebaixando-as de categoria, então aparentemente estamos no caminho certo.

"Porqanto qualquer que a si mesmo se exaltar será humilhado, e aquele que a si mesmo se humilhar será exaltado." Lucas 14:11

Fonte: Genizah

UMA HISTÓRIA QUE VOCÊ JÁ SABE O FINAL




Assim que sua esposa arrancou o carro, o Pr. Jessie ligou seu computador.
Com mãos tremulas, ele percorreu as telas até a área de conteúdo pornográfico com o qual ele já estava bem familiarizado. Sua expectativa aumentou à medida que clicava em um de seus sites favoritos.
Jessie não percebeu que sua esposa já estava suspeitando de que ele estava com um problema. Naquela manhã, ela decidiu espreitar pela casa para ver o que ele estava aprontando.  Ela entrou na sala antes que ele percebesse. O olhar de horror e traição em sua face quando ela viu a tela do computador o atormentaria por meses a fio.
A história de Jessie poderia ser multiplicada por milhões. De acordo com o “U.S. News and World Report” (um jornal americano), os surfadores da web gastam $970 milhões em web sites pornográficos em 1998, subirá para $10 bilhões em 2013. Um pesquisador estima que 60 milhões de americanos têm visitado web sites de sexo explícito.
Tragicamente o percentual de homens cristãos envolvidos não é muito diferente do número de não salvos. De acordo com a maioria das pesquisas, pelo menos 17% de cristãos vêem pornografia regularmente. A internet tem criado as imagens sexuais mais disponíveis ao click do mouse na privacidade do escritório ou casa de qualquer um.
A história do pastor Jessie é bem comum. Depois de completar o seminário , ele entrou no ministério com um sincero desejo de “andar da maneira que agrada a Deus”. De primeiro, ele manteve um relacionamento com Deus, ministrando ao seu rebanho da abundância que vinha de sua vida devocional vibrante.  Como resultado muitas pessoas começaram a vir para sua igreja. Esse gosto de sucesso o dirigiu. À medida em que suas crescentes responsabilidades demandavam mais de seu tempo, sua vida de oração começou a diminuir. Quando ele tentava orar, parecia que os céus estavam fechados para ele. Ao invés de gastar tempo na Palavra buscando o alimento de que precisava pessoalmente, ele simplesmente gastava seu tempo procurando por material de sermão. Depois de um período de meses, a fonte de vida se secou para ele. Na verdade seu ministério continuou a florescer , mas por dentro ele foi ficando mais e mais apático e de coração frio.
Jessie não percebeu isso, mas seu estado de “surdez” espiritual o fez ser um alvo aberto para o inimigo. Durante esse período de tempo, ele começou a ter pensamentos cobiçosos ocasionais. De início ele se livrava deles, mas com o tempo, ele crescentemente os mantinha. Um dia, enquanto navegava na internet, lhe veio o pensamento de digitar uma frase de cunho sexual na área de busca. Com uma curiosidade crescente e uma vida espiritual debilitada, ele cedeu à tentação. O que apareceu na tela era tão eletrizante para ele que passou duas horas percorrendo dúzias de web sites de conteúdo adulto. Jessie tinha acabado de entrar no reino sombrio da pornografia.
Por muitos meses depois esse “uma vez homem de Deus”, mergulhou cada vez mais fundo dentro dos esgotos de imagens pervertidas. Ele continuou dizendo a si mesmo que ia parar, sem perceber que cada simples visita a um site pornô o estava enterrando mais fundo em um abismo o qual seria muito mais difícil de escalar. Ter sido pego por sua esposa foi o começo, mas ele já tinha desenvolvido uma séria dependência. Em breve ele descobriu quão fracas eram suas promessas de parar. O seguinte trecho do meu livro No Altar da Idolatria Sexual explica isso:
À medida em que o viciado entra no estagio inicial de remorso, ele irá frequentemente fazer certas promessas a Deus jurando nunca repetir o mesmo pecado de novo: “Senhor, eu juro que não vou fazer isso nunca mais!”
Quando seus olhos são abertos para a realidade do horrível vazio e natureza do seu pecado, ele prontamente faz esse tipo de voto; pois, é nesse momento que ele verdadeiramente vê o pecado como realmente é.
No entanto, o problema em tomar tal resolução é que ela vem da própria força e determinação do homem em resistir e vencer um mal. Esse tipo de “promessa” nunca resistirá tentações futuras na mesma área. É por essa mesma razão que o viciado em sexo tem tentado quebrar o hábito incontáveis vezes,porém sem nenhum sucesso.
O homem desesperadamente precisa de arrependimento. Arrependimento verdadeiro vem quando o coração do homem muda sua maneira de ver o pecado. Um homem somente irá desistir de seu pecaminoso, destrutivo comportamento quanto tiver verdadeiramente se arrependido disso em seu coração. À medida em que ele se move para mais perto do coração de Deus, ele começa a desenvolver uma “tristeza divina” por seu pecado.
A luta de Jessie Continuou. Ele ficou ainda mais desencorajado depois de ter se desapontar com as afirmações de livros “poderosos” e de seminários “transformadores de vida” sobre como superar o vício sexual. Ele considerou entrar no programa “live-in” (tipo clínica de internação)para homens lutando contra o pecado sexual, mas concelheiros próximos lhe disseram que ele não precisava dar um passo tão drástico. Finalmente, ele pediu demissão da igreja e decidiu entrar no programa. Ao chegar nesse ponto, ele não se importava com o que isso lhe custaria:Ele tinha que se acertar com Deus.
Deus começou a se manifestar a Jessie de forma poderosa no Vida Pura. Ele o ajudou a ver que seu problema não era místico. Ele simplesmente tinha que começar onde tinha saído do caminho em primeiro lugar: sua vida devocional. Tendo experimentado grande quebrantamento por causa da maneira com que seu pecado destruiu seu caminhar com Deus, devastado sua mulher, e arruinado seu ministério, ele buscou ao Senhor com um novo fervor. Estando em um ambiente protegido, ele começou a se arrastar para fora do abismo do pecado. A tentação perdeu seu domínio sobre ele. A esperança por uma nova vida em Cristo foi um incentivo para que continuasse a caminhar em direção a Deus. Não demorou muito antes que o fogo de Deus tivesse retornado para sua vida.
O apóstolo Paulo resumiu a recém encontrada liberdade de Jessie quando ele disse, “se você andar em Espírito, você não cumprirá os desejos da carne.” Cada pessoa precisa decidir por si mesma quão digna de confiança é essa declaração, mas eu posso testificar que, nos quinze anos em que eu tenho ministrado aos viciados sexuais – incluindo muitos ministros (pastores) – Eu nunca encontrei nenhuma evidência que desafie essa declaração. Um homem pode freqüentar semanalmente a grupos de apoio, receber aconselhamento continuado, ir a reuniões de libertação, receber oração de evangelistas famosos, ou até entrar em para uma clínicade recuperação para viciados sexuais, mas se ele será libertado da cobiça sexual, será certamente forçado a encarar o que significa andar em Espírito.
Alguns desses esforços podem ser úteis, mas somente Deus tem o poder de limpar o coração que foi contaminado pela pornografia e tornar uma pessoa livre.
Deus realizou muitas coisas na vida de Jessie que foram instrumentos em sua vitória contra a pornografia – demais para referir em um artigo curto – mas o princípio básico fundamental que pode ser extraído dessa história é que um problema espiritual envolvendo o pecado só será resolvido através do trabalho do Espírito Santo:se você andar em Espírito, você não cumprirá as concupiscências da carne.
Steve Gallagher é o fundador e presidente do Ministério Vida Pura. Ele tem dedicado sua vida ajudando homens a encontrar libertação de pecados sexuais, vida abundante em Deus que vem através do profundo arrependimento.
Traduzido por Emilio C. L. Belo.
Igreja Batista em Aarão Reis, em 2012
Belo Horizonte, MG Brasil

segunda-feira, 14 de março de 2011

TUDO POSSO NAQUELE QUE ME FORTALECE?



Será que o Cristão pode fazer de tudo? Será que temos, por meio de Cristo, poder para realizar qualquer feito? O que é que Paulo quis dizer com esta declaração ousada?



O contexto imediato






Esta passagem tem sido entendida por muitos Cristãos como uma afirmação geral de que realmente “tudo” podemos fazer. Como sempre é necessário observar o contexto da passagem. O contexto imediato (Fil 4:10-20) indica que Paulo está tratando de necessidades pessoais. Podemos ver isso quando ele usa frases e termos como “pobreza” (v. 11) “fartura e fome”; “abundância e escassez” (v. 12); “dar e receber” (v. 15) e “necessidades” (vv. 16 e 19). Todas estas palavras e frases tratam de necessidades físicas e imediatas como comida e moradia. Ele pessoalmente passou por necessidades nestas áreas e está mostrando como Cristo lhe deu força para enfrentá-las.






Paulo poderia, de repente, sair deste contexto para formalizar uma afirmação sobre todas as necessidades em geral. Ou, como alguns entendem pela frase isolada, ele poderia dizer que, por meio de Cristo, consegue realizar de tudo. No entanto, para fazer isso, seria esperado que Paulo desse algum sinal de tal mudança. A ausência de uma sinalização não impede de forma categórica esta possibilidade. Mas, sendo que o contexto imediato é satisfatório, e que não há evidência clara dele ter intencionado uma afirmação mais geral, devemos concluir que o ponto dele neste versículo é de que, dentro das necessidades pessoais (embora estas necessidades sejam enormes), com Cristo, ele terá tudo que precisa para lidar com elas.






Como Paulo usava “tudo”






Ajuda-nos a entender que Paulo, como autores e oradores modernos, às vezes usava o adjetivo “tudo” (gr. panta de pas) para se referir à maior parte ou à maioria de uma categoria, sem necessariamente se referir a algo em sua totalidade. [1]






Podemos ver este tipo de uso em passagens como 1 Cor. 9:22 “…Fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos, salvar alguns.” Paulo não quis dizer que havia se tornado absolutamente tudo para com toda a humanidade. O ponto dele foi de que ele se esforçou, negando seus próprios interesses e tendências, para influenciar todos aqueles com quem ele teve contato e oportunidade.






De forma parecida, em Colossenses 1:28 Paulo afirmou “o qual nós anunciamos, advertindo a todo homem e ensinando a todo homem em toda a sabedoria, a fim de que apresentemos todo homem perfeito em Cristo”. Aqui Paulo não quis dizer que ensinava literalmente todos os homens existentes, nem que aquilo que ele ensinava fosse toda a sabedoria existente. O ponto dele, novamente, se restringia àqueles dentro do seu raio de alcance e à sabedoria necessária e suficiente para a plena vida em Cristo.






Da mesma forma, em Fil 2:21, ao dizer “pois todos eles buscam o que é seu próprio, não o que é de Cristo Jesus.” Paulo não estava se referindo à totalidade da raça humana, nem a todos da cidade de Roma, onde ele se encontrava (Fil 1:13). Ele estava se referindo a muitos outros que não se preocupavam com seus interesses da forma como Timóteo havia feito. Mas, presumimos que Paulo contaria entre aqueles em quem confiava pessoas como Epafrodito (4:18) e os da casa de César (4:22). Portanto, ele não estava relegando nem a raça como um todo, nem toda a população de Roma ao grupo dos que “buscam o que é seu próprio, não o que é de Cristo Jesus.” Ele quis dizer que muitos eram assim, porém Timóteo era diferente.






De igual modo, ao dizer em Fil 4:13 “Tudo posso naquele que me fortalece”, Paulo não quis dizer “tudo” num sentido absoluto. O que ele quis dizer era que, de todas as coisas que havia passado que necessitavam de poder para enfrentar, como pobreza, fome, escassez e necessidades, Cristo supria toda esta força que ele precisava. É neste sentido que Paulo escreveu “Tudo posso naquele que me fortalece”. Pelo que já havia passado, Paulo tinha confiança, e quis passar esta mesma confiança aos Cristãos em Filipos, de que Cristo havia de suprir toda a força que eles precisavam, seja qual fosse a situação. É por isso que ele encoraja os Cristãos em Filipos com as palavras “E o meu Deus, segundo a sua riqueza em glória, há de suprir, em Cristo Jesus, cada uma de vossas necessidades” (4:19).






O foco da passagem






Embora muitas traduções modernas como a NVI, ARA e BJ traduzam o verso praticamente igual como “tudo posso naquele que me fortalece”, aqui a NTLH traz uma tradução bastante interessante “Com a força que Cristo me dá, posso enfrentar qualquer situação”. Esta tradução é salutar, pois coloca a ênfase em Cristo e demonstra que o objetivo não é as conquistas do homem e sim sua capacitação para, com Cristo, enfrentar as situações, tão adversas quanto forem, que a vida traz.






É um eqúivoco pensar que o ponto de Paulo é que, com Cristo, ele pode alcancar grandes realizações ou conquistas. Paulo, embora falando das coisas que fazia por conta própria, já descartou a imporância das grandes realizações pessoais. Em 3:4-8 Paulo relembrou suas grandes conquistas em nome do zelo religioso. Daí, ele mostrou como o simples conhecer e comunhão com Cristo eram muito superior a todas as suas conquistas (3:8,10). Dificilmente Paulo agora estaria chamando a atenção dos Cristãos em Filipos para a idéia de realizar grandes coisas, mesmo com Cristo. O ponto de Paulo é de assegurar estes irmãos de que, na abundância ou na adversidade, Cristo os faria fortes o suficiente para lidar com qualquer situação, permanecendo fiéis a Ele.






Perigo de interpretação






Existe pelo menos um perigo de uma interpretação demasiadamente genérica deste versículo. Crentes podem ficar frustrados ou duvidando das promessas de Deus se tentarem coisas que consideram dentro da vontade de Deus, mas falharem. “Cristãos frequentemente anunciam, ‘Tudo posso naquele que me fortalece’, para assegurar a outros (e a eles mesmos) que podem ser bem sucedidos em empreendimentos para os quais eles podem ou não ser qualificados. Fracasso subsequente os deixa transtornados com Deus como se ele tivesse quebrado uma promessa!” [2]






Se “tudo posso naquele que me fortalece” significa que posso realizar qualquer obra ou feito, desde que seja algo que Deus teoricamente ia querer, então haverá muita frustração, pois nem sempre Deus de fato faz tudo que pode. Deus podia ter evitado que Cristo morresse na cruz (Mat 26:53). Certamente Ele não queria que Cristo tivesse que morrer na cruz. Mas, por causa do grande amor dEle por nós (outro aspecto da sua soberana vontade), Ele permitiu. Se nem Deus sempre faz tudo que pode e tudo que quer, podemos concluir que nem tampouco o homem fará, ou que Deus o fará por meio dele.






A Paulo, um homem de fé sincera e poderosa, foi negado algo bom e desejável que pediu ao Senhor – uma cura. Em 2 Coríntios 12:8-9 vimos que, apesar de toda sua fé e amor ao Senhor, Paulo não recebeu o que queria. Tudo posso naquele que me fortalece? Sim, se for da vontade de Deus.






Paulo tinha o dom de curar e curou muitas pessoas, chegando a curar todos numa ilha inteira (Atos 28:7-9). Mas, houve ocasião em que Paulo não pôde curar um discípulo próximo a ele, Trófimo (2 Tim 4:20). Tudo posso naquele que me fortalece? Sim, dentro dos limites que Deus estabelece e permite. Haverá ocasiões em que vamos querer fazer coisas boas, até coisas para Deus, mas não conseguiremos, porque não era a vontade de Deus naquele momento, ou naquela situação, ou com aquela pessoa.






A respeito desta passagem D.A. Carson alerta: – Uma antiga preferência é Filipenses 4.13: “… tudo posso naquele que me fortalece”. O “tudo” não pode ser completamente ilimitado (e. g., saltar sobre a lua, resolver “de cabeça” complexas equações matemáticas ou transformar areia em ouro); portanto, a passagem geralmente é exposta como um texto que promete aos crentes a força de Cristo em tudo o que eles têm a fazer ou em tudo o que Deus lhes ordena que façam. Sem dúvida, este é um conceito bíblico; contudo, no que se refere a esse versículo, dá-se pouca atenção ao contexto. O “tudo” aqui consiste em viver alegre em meio a fartura ou fome, em abundância ou escassez (Fp 4.10-12). Seja qual for sua situação, Paulo pode lutar com alegria por meio de Cristo, que o fortalece. [3]






Concluímos que o ponto de Paulo em Filipenses 4:13 quanto àquilo que ele pode fazer se refere à força para enfrentar situações que a vida traz a ele, especificamente no sentido de necessidades pessoais. Mas a ênfase não está nele só, e sim nAquele que lhe dá esta força – Cristo Jesus. O versículo pode ser dividido em duas partes “tudo posso” e “naquele que me fortalece”. O mundo declara com orgulho e confiança “tudo posso” e pronto. O Cristão corrige, com humildade temperada pela fé em Jesus “Sei que enfrentarei muitas dificuldades nesta vida, e que sozinho seria derrubado, mas, ‘Com a força que Cristo me dá, posso enfrentar qualquer situação’.”






Hoje em dia os Cristãos ainda enfrentam as incertezas do desemprego, o medo da violência e da doença. É preciso assegurá-los de que, com Cristo, podemos lidar com qualquer situação, não importa quão adversa for. Podemos confiar em Deus de que Ele nos dará a força que precisamos. Basta caminharmos junto a Jesus.






E o “tudo” que podemos fazer?






Alguns ainda querem saber, “o homem pode fazer tudo o que ele precisa fazer?” Até isso, na verdade, é relativo. O homem às vezes pensa que precisa fazer algo, tenta fazer e se frustra quando não consegue. Ele declara que Deus não existe, ou reclama que Deus não ouviu suas orações. Mas, Deus muitas vezes sabe que há uma grande diferença entre o que o homem pensa que precisa e o que ele realmente precisa. Quando era jovem namorei uma moça e pensei que precisava casar com ela. Não deu certo. Acabei esperando até quase 40 anos de idade para casar. Hoje, sei que Deus me deu, graças à sua vontade que é sempre melhor, a esposa que eu realmente precisava.






Dentro da vontade soberana (e para nós muitas vezes misteriosa) de Deus, sim, diria que o homem pode fazer o que precisa. Mas, esse fazer nem sempre será o que ele quer. Prova disso é que há muita coisa que, além de poder fazer, devíamos fazer, mas nem sempre fazemos.






Talvez a grande questão não é se Deus me capacita para fazer tudo que preciso. Dentro da soberana vontade dEle, Ele sempre capacita. O problema é que eu nem sempre quero fazer tudo para o qual Ele me capacitou. Talvez para Deus parece que queremos saber se podemos fazer de tudo, quando tão pouco fazemos com o “tudo” que já podemos. Que Deus nos ajude a, como Paulo, nos contentarmos não só com aquilo que Ele nos deu, mas com aquilo que Ele nos capacitou a fazer, e esmeremo-nos ao fazê-lo.


sexta-feira, 11 de março de 2011

Uma entrevista com a morte, a amante do pecado



No auge da dor por causa da ruína de seu povo, o profeta Jeremias personifica a morte e clama contra ela: “A morte subiu pelas nossas janelas e entrou em nossos palácios, exterminou das ruas as crianças e os jovens das praças” (Jr 9.21). Cerca de seis séculos depois, no auge de seu entusiasmo pela vitória de Cristo sobre a vitória da morte, o apóstolo Paulo personifica outra vez a morte e zomba dela: “Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu galardão?” (1 Co 15.55.)



Abertos estes precedentes, Ultimato também trata a morte como se fosse uma pessoa e faz com ela a seguinte entrevista:

A Mais Teimosa e Iniludível Manifestação da Finitude e Impotência Humana






Repórter – Quem é você?


Morte – Sou a amásia do pecado.





Repórter – Não entendo.


Morte – Deus não me incluiu em seus planos na criação do homem. O pecado foi o cavalo de Tróia para me introduzir na criação de Deus.






Repórter – Desde quando?


Morte – Desde a queda.






Repórter – O que você chama de queda?


Morte – A besteira que o homem cometeu no jardim do Éden.






Repórter – A ingestão do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal?


Morte – Não.






Repórter – Então, o que foi?


Morte – O que aconteceu antes da ingestão do fruto proibido: a arrogância do homem de querer ser igual a Deus e a subseqüente desobediência.






Repórter – Quer dizer que você é tão velha quanto o homem?


Morte – Assim diz a Escritura: “O pecado entrou no mundo por meio de um só homem e o pecado trouxe a morte” (Rm 5.12).






Repórter – O que você pretende?


Morte – Meu propósito tem sido provocar a cessação definitiva de todos os atos cujo conjunto constitui a vida dos seres organizados, isto é, a desintegração somatopsíquica, que reduz o corpo humano ao estado de putrefação, ao esqueleto e, por fim, ao pó.






Repórter – E você se gloria disso?


Morte – Eu me glorio em ser a mais teimosa e iniludível manifestação da finitude e impotência humana.






Repórter – Sem exceções?


Morte – Não admito exceções. Sou um fenômeno universal. Veja como termina o primeiro livro da Bíblia, aquele que narra a criação dos céus e da terra e o início da vida: “Morreu José da idade de cento e dez anos, embalsamaram-no e o puseram num caixão no Egito” (Gn 50.26).






Repórter – Quer dizer que ninguém escapa à sua fúria?


Morte – Respondo com a sua Bíblia: “Ninguém pode dominar o vento nem segurá-lo. Assim também ninguém pode evitar a morte nem deixá-la para outro dia.” O pregador ainda acrescenta: “Nós temos de enfrentar esta batalha, e não há jeito de escapar” (Ec 8.8 em A Bíblia na Linguagem de Hoje).






Repórter – Você concorda com a afirmativa de Salomão de que “os vivos sabem que hão de morrer” (Ec 9.5)?


Morte – No fundo todos sabem. Muitos, todavia, afastam de si essa certeza e vivem como se nunca fossem morrer.






Repórter – Não é também o seu caso?


Morte – Tapar o sol com peneira é um expediente antigo e válido. É como o placebo.






II.


O Rei dos Terrores






Repórter – Tem idéia de quantas vítimas você faz por hora?


Morte – Seria preciso contar. Todavia, escreve aí 1.400 mortes por hora ao redor do mundo.






Repórter – Parece que esse número era bem maior há trinta anos atrás.


Morte – Na década de 1960 eu fazia 4.500 mortes por hora, três vezes mais.






Repórter – O que está acontecendo?


Morte – A expectativa de vida ao nascer está aumentando em quase todos os países do mundo. No Japão era de 78 anos em 1988. Cinco anos depois subiu para 80 anos. No caso do Brasil, a elevação foi de 65 para 67 anos no mesmo período.






Repórter – Você vê o avanço da medicina e a melhoria da qualidade de vida como ameaças?


Morte – Não recebo ameaças de ninguém. Tenho sido campeã invicta. Sou incorrigivelmente inexorável. O máximo que a ciência consegue é me conservar afastada apenas por algum tempo. A vitória final é sempre minha.






Repórter – Às vezes me parece que você não está dando conta. O saldo entre os que nascem e os que morrem é enorme: na ordem de 9.300 novos habitantes do planeta por hora. A população do mundo está aumentando muito: éramos 3,2 bilhões em 1975 e agora somos 5,6 bilhões. Quando os recém-nascidos de hoje tiverem 65 anos, o mundo terá cerca de 11 bilhões de habitantes.


Morte – Não obstante, a vida humana continua sob o meu poder.






Repórter – É muita presunção.


Morte – Não me desculpo.






Repórter – Lamenta-se por aí que você entra sem ser convidada, não avisa quando vem, mete-se em ambientes reservados…


Morte – Você está querendo citar o profeta Jeremias, que disse a meu respeito: “A morte subiu pelas nossas janelas, e entrou em nossos palácios, exterminou das ruas as crianças, e os jovens das praças” (Jr 9.11). Sou mesmo rude. E também implacável. Um dos amigos de Jó me chamou com muito acerto de O rei dos terrores (Jó 18.14).






Repórter – Há alguma coisa mais amarga do que a morte?


Morte – Não creio, embora um dos sábios de Israel, que tinha muita implicância contra as mulheres adúlteras e prostitutas, tenha dito que um certo tipo de mulher é mais amarga do que a morte.






Repórter – Que mulher?


Morte – A mulher cujo coração são redes e laços, e cujas mãos são grilhões (Ec 7.26). A tal mulher cujos lábios destilam favos de mel e cujas palavras são mais suaves do que azeite, mas cujo fim é amargoso como o absinto e agudo como a espada de dois gumes (Pv 5.3-4).






III.


Pior do que Herodes






Repórter – Quais instrumentos você usa para colher tanta gente em todos os quadrantes da terra em tão pouco tempo?


Morte – Os mais variados e originais possíveis. Aqui está uma listagem, talvez incompleta: 1) Os flagelos naturais, como abalos sísmicos, enchentes, furacões, seca, etc. Só o terremoto de 1556 em Shensi, na China, matou 850.000 pessoas. 2) Os acidentes de trabalho e de trânsito. Em 1995, 4.000 brasileiros morreram em acidentes de trabalho e 42.000 americanos perderam a vida na chamada epidemia das rodovias. 3) Os conflitos bélicos, entre nação e nação, entre etnia e etnia dentro de um mesmo país, e entre oprimidos e opressores. As 130 guerras havidas nos primeiros setenta anos do presente século me renderam 90 milhões de mortos. 4) O crime organizado. A cada ano 47.000 brasileiros são assassinados. Mais da metade (66%) dos jovens entre 20 e 29 anos estão entre os mortos. Aliás, a minha estréia deu-se através de um crime de morte, quando Caim matou a Abel. 5) Os excessos e os vícios do próprio homem. Só o cigarro antecipa a morte em quinze anos e mata 100.000 pessoas por ano. 6) As enfermidades velhas e novas a que todos estão sujeitos. No início deste século a pneumonia e a tuberculose eram meus instrumentos mais eficazes. Na década de 70, as doenças cardíacas e os tumores malignos tomaram o lugar da pneumonia e da tuberculose. Estou trazendo de volta a tuberculose, que já está matando 2,2 milhões de pessoas a cada ano. A grande novidade foi a epidemia da Aids, introduzida na década de 80. A cada dia surgem 7.500 novos infectados pelo virus da Aids ao redor do mundo. A morte deles já está decretada, pode ocorrer daqui a onze meses, como em geral acontece com os doentes da cidade de São Paulo, ou daqui a 42 meses, como acontece com os doentes da cidade de São Francisco da California.






Repórter – Parece que você não tem tido muito êxito através das mortes provocadas por acidentes aéreos. No ano passado apenas 200 americanos morreram vítimas de algum desastre de avião.


Morte – Em compensação, no mesmo período, 800 americanos perderam a vida por causa de objetos que caíram em suas cabeças e 300 porque escorregaram na banheira.






Repórter – Você falou em instrumentos variados e originais. O que você quer dizer com instrumentos originais?


Morte – Quero dizer que alguns dos meus mortos procedem de pena capital, imposta pelo governo de alguns países. Só no ano passado, a China mandou executar 2.190 pessoas, a Arábia Saudita 192 e os Estados Unidos 56.






Repórter – Em Serra Leoa, 164 crianças em 1.000 morrem antes de comemorar seu primeiro aniversário. Em Níger, 320 crianças em 1.000 morrem antes de atingir a idade de cinco anos. Essa matança de inocentes não lhe causa repugnância?


Morte – Não sou melhor que Herodes, que mandou matar todas as crianças do sexo masculino de dois anos para baixo, residentes em Belém e seus arredores. Quero ser pior.






Repórter – É por esta razão que você arranca do ventre materno criancinhas ainda em formação e apressa a morte dos que estão morrendo?


Morte – Chamo o primeiro caso de aborto, isto é, a interrupção da gravidez ou daquele processo de tecer a criança no seio da mãe, que o Salmo de Davi denomina romanticamente de algo “assombrosamente maravilhoso” (Sl 139.14). Só na Inglaterra e no País de Gales, já foram realizados mais de quatro milhões de abortos, de 1967 a 1993. Chamo o segundo caso de eutanásia, isto é, a ação ou omissão que produzem a morte pela sua própria natureza.






Repórter – A morte por suicídio escapa de sua jurisdição?


Morte – Não. É apenas um método econômico de matar, no qual o agente e o paciente são a mesma pessoa, num clima de ausência de lucidez e de liberdade. No ano passado 22.445 japoneses deram cabo às suas próprias vidas.






IV.


A Morte da Morte






Repórter – O que você acha das sociedades criônicas?


Morte – A Ciência jamais conseguirá reviver um cadáver, mesmo protegido da putrefação por se encontrar em suspensão criônica.






Repórter – Como você encara os casos de ressurreição havidos nos tempos bíblicos, especialmente na época de Jesus?


Morte – Lembre-se de que todos os ressuscitados tornaram a morrer depois de alguns anos a mais de vida.






Repórter – E o caso de Jesus? Está escrito que ele ressuscitou dentre os mortos, apareceu vivo com muitas provas incontestáveis durante quarenta dias e, depois, foi assunto ao céu, onde se encontra ao lado direito de Deus.


Morte – Não acredito nessas coisas. O cristianismo está mesclado de mitos.






Repórter – Não acredita ou foge delas?


Morte – Passemos para a próxima pergunta.






Repórter – Qual o versículo da Bíblia que você mais aprecia?


Morte – É esta palavra de Paulo: “A morte se espalhou por toda a raça humana porque todos pecaram” (Rm 5.12).






Repórter – E o de que você menos gosta?


Morte – Todo o 15º capítulo da Primeira Epístola de Paulo aos Coríntios, especialmente o verso 26: “O último inimigo a ser destruído é a morte”.






Repórter – Por quê?


Morte – Porque esse versículo dá uma esperança ilusória.






Repórter – Não é ilusória. Ela é coerente com a natureza de Deus, com a história da revelação e com a aspiração escondida no coração humano de que a morte não é a última página do livro da vida. Oitenta por cento da humanidade acredita na sobrevivência depois da morte.


Morte – Baseando-se em quê?






Repórter – Uma grande parte baseia-se na vitória de Jesus.


Morte – Que vitória?






Repórter – Estamos invertendo os papéis. Sou eu quem faço as perguntas e não você. Mas deixa ficar. Eu respondo. A vitória de Jesus é a sua encarnação, é a sua vida sem contaminação do pecado, é a sua morte vicária, é a sua espetacular ressurreição ao terceiro dia. A vitória de Jesus é o véu do templo rompido de alto a baixo. A vitória de Jesus é a viabilidade do perdão a todo aquele que se arrepende de seus pecados e crê nele. A vitória de Jesus está nesta declaração dele mesmo: “Eu sou a ressurreição e a vida” (Jo 11.25). Você é a anti-vida e ele é a ressurreição. Você é a morte e ele é a vida. Não é à toa que você detesta o capítulo 15 da Primeira Epístola aos Coríntios, pois lá está escrito que a morte veio por meio da desobediência de Adão, o tal cavalo de Tróia que você mencionou, mas a ressurreição dos mortos veio por meio de Jesus (1 Co 15.21).


Morte – Você me deixa brava.






Repórter – E você me obriga a dizer-lhe: “Quando este corpo corruptível se revestir da incorruptibilidade, e o que é mortal se revestir de imortalidade, então se cumprirá a palavra que está escrita: Tragada foi a morte pela vitória. Onde está, ó morte a tua vitória? onde está, ó morte, o teu aguilhão? Graças a Deus que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo.” (1 Co 15.54-57.)


Morte – Você está falando da minha própria morte?






Repórter – Isso mesmo. No novo céu e na nova terra, na nova ordem, “a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram” (Ap 21.4).






Elben César, Revista Ultimato, nov. 1972, ed. 55, p. 4.


sábado, 19 de fevereiro de 2011

EVANGÉLICOS AMARGOS DE VINTE E POUCOS ANOS



É impressão minha ou parece que muitos jovens criados em comunidades evangélicas de classe média se tornam pessoas amarguradas em seus vinte e poucos anos? Recentemente tenho lido postagens em blogs e artigos escritos por jovens de vinte e poucos anos criados no evangelicalismo suburbano que parecem comprometidos a fazer uma coisa: atacar a própria comunidade onde cresceram e fazer isso de forma amargurada. Eu os chamo de “os Amargos”.
O modo como os Amargos se comunicam se encaixa na tese por Ronald Inglehart do início dos anos 1970 sobre jovens pós-materialistas. Inglehart escreveu que quando crianças crescem com abundância, como muitos jovens evangélicos suburbanos, ao alcançarem a maioridade, elas se preocupam mais com “auto-expressão” do que com trabalho duro e sobrevivência – as preocupações daqueles que crescem em meio a dificuldades e escassez.
Acrescente-se a isto o que Bill Bishop escreveu em The Big Sort: Why the Clustering of Like-Minded America Is Tearing Us Apart, que filhos da abundância tornam-se pós-materialistas jovens adultos que perdem o interesse em religião organizada e passam a ser cada vez mais focados em espiritualidade pessoal. O crescimento econômico e a segurança militar diminuem em importância política e são substituídos por assuntos como liberdade pessoal, direitos de aborto, justiça social e o meio ambiente. Estes jovens adultos são menos propensos a obedecer uma autoridade central e perdem a confiança em instituições hierárquicas. Finalmente, eles fomentam ressentimento pelas grandes organizações que criaram a sociedade industrial moderna norte-americana: grandes negócios, denominações tradicionais de igrejas, estruturas familiares tradicionais e assim por diante.
Os Amargos, que tendem a gravitar em direção a cultura cristã da moda, estão numa missão para expor a “conspiração conservadora” onde quer que a encontrem (ou inventem) sob a desculpa da “crítica saudável”. Os Amargos definem-se a si mesmos pelo que eles não são. Se seus pais forem Republicanos, eles se tornam Democratas obstinados. Se seus pais estão numa igreja conservadora, os Amargos buscam uma igreja mais liberal. Os Amargos escolhem “a esquerda” porque não é “de direita”. Não há pecado maior para os Amargos do que soar como se você fosse “conservador”.
Definir a identidade de alguém em termos de “não ser igual a eles” parece covardia. O anseio pela auto expressão que Inglehart discutiu em sua tese pode ser um anseio por ser ouvido e afirmado, uma vez que muitos filhos da classe média são ignorados em casa onde a participação significativa na vida familiar é comunicada como sendo opcional. Os Amargos geralmente sentem-se profundamente insignificantes, como se não tivessem importância. Eles provavelmente não eram “da hora” na escola. Suplicando por afirmação, os Amargos desejam que alguém preste atenção neles – finalmente. O modo mais fácil de ganhar atenção é protestando contra as coisas queridas dos mais velhos. “Você está me notando agora, não está?”, os Amargos declaram. A grande ironia é que os Amargos ainda desejam conexão as comunidades conservadoras que deixaram. Se você realmente “largou” algo, você não desperdiça tempo atacando aquilo; você apenas o ignora e deixa pra lá.
Posso estar errado sobre os Amargos. Espero que sim. Mas o que eu vejo é um grupo de vinte e poucos anos gastando seu tempo com uma busca que nunca irá dar-lhes a revolução prometida. Você é o que é, não aquilo contra o qual você se coloca.
By Solomon1